Em julho de 2010 começamos a discutir o Escambo dos 20 anos em Janduís, quando acontecia o XXVI Escambo em Fortaleza/CE. Daí em diante conversamos no XXVI Escambo de Lucrécia/RN, em setembro de 2010, no XXVIII Escambo de Umarizal/RN, em novembro de 2010 e no XXIX em Guaramiranga/CE, em janeiro de 2011.
Além de todos esses encontros discutindo o Escambo dos 20 anos, conversamos na rede do Movimento via internet, assim como tivemos reuniões em Janduís, no mês de fevereiro e demais momentos. Tivemos muito tempo pensando nessa comemoração, que pareceu ser pouco.
Muitos grupos acompanharam de perto a discussão, outros ouviram falar e alguns vieram apenas para celebração. No meu ponto de vista, foi um encontro de reencontros com nós mesmos, provocativo a ponto de fazer a gente pensar em algo bem maior e arrojado.
Foi um encontro que apaziguou os ânimos dos grupos locais, fez a comunidade sair de casa e acima de tudo projetou um pensamento de futuro para uma nova dimensão cultural para Janduís e região. Sem contar no abraço caloroso que cada um deu na chegada e na saída; nos esforços somados por cada grupo em busca de deslocamento.
Cortejo do Escambo |
São por esses motivos que o Movimento Escambo precisa estar sempre crescendo e a todo momento entrando gente nova, artistas de várias idades de todos os lugares. Juntamos pensamentos diferentes de artistas apolíticos, anarquistas, burocráticos, políticos, uma militância muito ativa.
Em Janduís pensamos em entregar o Troféu Berimbau Mestre Dadá, que não deu certo, sem contar que pensamos numa sala de memória que também não funcionou. Tudo bem, se não deu certo é porque teremos outra oportunidade para tais ações.
Muitos artistas a fim de conversas e outros de curtição o que é natural. Uns perguntando pela nossa ideologia e outros que nem viveram o Escambo querendo calar a roda com palavras de ordem sem ordem. Por que não ter nossas definições pra não irmos pra uma roda discutir aquilo que nem sabemos?!
Grupo Arteiros - Olinda/PE |
Nosso esforço sempre foi buscar que cada grupo banque sua própria alimentação, seu transporte, seu espetáculo, mas, há 15 anos acompanho essa discussão e ainda esquecemos nossos pratos, deixamos salas pros de casa arrumar e entupimos os banheiros que todos usam.
Milito nesse movimento justamente há 15 anos. Já vi muitos entrarem e saírem espontaneamente quando os ideários não se batem. Com isso, buscamos sempre locais de aconchego, alimentação onde todos possam fazer e se servir, porque ração quem come é gado e ao contrário será gado também.
Não podemos perder a capacidade de discutir nossos pensamentos sem agredir as articulações locais dos grupos, dos artistas, das pessoas, enquanto a gente não amadurecer e realizar aquilo que pensamos. Será que temos a intenção de dividir o espaço onde cada um constrói com dificuldades? Acredito que não!
Nossos jovens que chegam vêm em busca de aprendizagem cada vez mais, algo que sempre o Movimento fez em sua história. Se drogar, se prostituir nem sempre está no dicionário de muitos que ainda nascem nessa história, ao contrário dos que já viveram repressão e opressão.
Cia. Arte e Ação - Messias Targino/RN |
E se nós não tivermos horários de café, almoço e janta nos encontros? Não confirmar quem vai, quantos vão, quantos precisamos pra se alimentar? Pra onde estamos indo de verdade? Amadurecer não significa apodrecer.
Sinto o Movimento Escambo como minha casa pela referencia que bebi durante os anos. Será que só Janduís que tivemos tantas discussões questionadoras sobre os apoios nos cartazes, coisas discutidas entre nós?! É importante estar nas discussões pra não chegar aos encontros alienados.
Respeito todas as maneiras de pensar. Agora preciso que me compreendam também. Cada caso é um caso. É a diferença de muitos que nos une e nos mantém vivos há 20 anos. Se alguém é contra falas de políticos ou outros que sejamos claros e coloquemos á mesa. Essa discussão é simples. Ou será que não somos tão “livres de rua”.
Volto a defender a realização os Escambitos, já que a rede não balança pra todos e para que assim possamos somar as idéias e construir cada vez mais. Não somos selvagens pra mandar meu par calar a boca onde a luta, a perseverança e os rumos são os mesmos. Que cada proposta seja de questionamentos e não de silêncio. Nosso barulho é bem mais festivo do que qualquer ditadura.
Grupo Ginga Faceira - Janduís/RN |
Nosso encontro dos 20 anos contou com 18 espetáculos, 39 grupos e 193 pessoas, quando tínhamos confirmados 344 participantes. Analiso que o número de 200 artistas seja sempre um número flexível de ser trabalhado por questões de acomodações, vivencia de alimentação e menos dispersões. Isso o Movimento é quem define.
Busco me avaliar sempre e avaliar as ações gerais dentro de um contexto menos conflituoso e harmonioso. Foi assim que cresci dentro do Movimento Escambo e aprendi a conviver com o meu oposto em determinados segundos da vida. Viva a arte e suas possibilidades.
Opinião pessoal de:
Lindemberg Bezerra
Coordenador da Cia. Ciranduís e membro do Movimento Escambo.